quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Uma mutação de imunidade à malária favoreceu a origem dos humanos


Investigadores da Universidade da Califórnia descobriram que os ancestrais humanos sofreram uma mutação genética que os tornou resistentes a doenças como a malária, e isso favoreceu o aparecimento do Homo sapiens na Terra, a espécie que este ano alcançará os 7.000 milhões de exemplares.
Os autores, sob a liderança de Pascal Gagneux, professor da Universidade de Washington, publicaram esta semana na revista científica “Proceedings of National Academy of Science (PNAS) ”, a existência de uma clara ligação entre as moléculas de ácido siálico , um açúcar que se encontra à superfície das células de todos os animais, e a seleção darwiniana.  Estas moléculas, que servem como um alvo para os patógenos invasores porque interagem com outras células e com o meio ambiente, há milhões de anos atrás eram idênticas entre todos os primatas, incluindo os ancestrais dos seres humanos. Eram todas do tipo conhecido como o ácido N-glycolylneuraminico ou o Neu5Gc.
Em 2005, os autores assinalaram que este gene se tinha mutado há cerca de três milhões de anos e que se permaneceu inativo, permitindo que o ramo dos nossos antepassados fosse resistente ao parasita da malária, tão comum em África. Ao mesmo tempo, começaram a produzir uma variante do ácido siálico, o Neu5Ac. "A mutação poderia representar uma vantagem na linhagem dos hominídeos, para impedir a passagem de alguns patogénicos, como se fechasse a porta de entrada às células", diz Carles Lalueza-Fox do CSIC (Consejo Superior de Investigações Científicas, Espanha), um perito espanhol em DNA antigo.
Esta mudança, segundo Gagneux, aconteceu "ao mesmo tempo em que aqueles hominídeos se tornaram predadores no seu meio ambiente." "É difícil estar seguro sobre o que aconteceu, porque a evolução é simultânea em muitos genes, mas sabemos que os humanos primitivos desenvolveram uma resposta imune ao Neu5Gc. Os seus sistemas imunológicos reconheciam-no como um intruso que devia ser destruído", aponta. Gagneux relembra que era o momento em que começaram a comer mais carne vermelha, uma importante fonte desta molécula, o que pode ter estimulado ainda mais a esta resposta imune
Os investigadores defendem que esta resposta à molécula provavelmente afectou a reprodução. Dado que a gravidez dos mamíferos têm um elevado custo biológico para as fêmeas, inclusive a própria vida, em alguns casos extremos, pode ter ocorrido a necessidade de garantir a melhor maneira do esperma fertilizar os seus ovos, rejeitando por isso os espermatozóides que carregavam a moléculaNeu5Gc, que reduzia as suas possibilidades de sucesso reprodutivo.
Para testar esta hipótese, expuseram o esperma de um chimpanzé, no qual a superfície destas células é diferente do esperma humano em mais de 50%, a anticorpos humanos “anti-Neu5Gc”. Os anticorpos mataram o esperma 'in vitro'.
Um segundo teste consistiu em acopolar ratos femininos transgénicos (manipulados para não produzirem os “anti-Neu5Gc”) com machos que produziam esta molécula. O resultado foi que a fertilidade feminina foi muito baixo devido à incompatibilidade entre os dois. "Com o tempo esta incompatibilidade iria reduzir-se e no final acabaria por eliminar os machos com Neu5Gc", conclui Gagneux.
Nas palavras de Lalueza-Fox: "O esperma que tinha ácido siálico na sua superfície, e que portanto, não teve a mutação que o inactivou, teria sido eliminado da população por este mecanismo reprodutivo (e talvez também porque teriam uma desvantagem em comparação com alguns patógenos) ".
Esta perda do Neu5Gc, há cerca de dois ou três milhões de anos atrás coincidiu com o aparecimento do Homo ergaster / erectus, considerado o ancestral mais provável da nossa espécie, pelo qual este mecanismo imune poderá estar implicado na evolução.

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