Acrescento de democracia e facilitador de comunicação é como vários investigadores chamam às redes sociais na internet quando reflectem sobre o papel que tiveram nas últimas manifestações de rua realizadas em Portugal.
O sucesso de uma manifestação «não depende só da forma, mas também do objecto» a que se propõe a sua mobilização, diz o filósofo e professor universitário Viriato Soromenho Marques.
Para o psicanalista Carlos Amaral Dias, redes sociais como o Twitter ou o Facebook «ampliam o conceito de cidadania», pelo que «a democracia aumenta» com a maior liberdade de expressão que proporciona.
«Todos temos uma voz, nem que seja ilusória», acrescenta, por seu lado, o psicólogo e também docente universitário Miguel Pereira Lopes, para sustentar a ideia de que as redes sociais vieram «democratizar a comunicação».
Mas facilitar a comunicação não significa um impacto directo na dimensão dos protestos, havendo exemplos contraditórios.
No caso das manifestações do passado dia 15 realizadas em diversas cidades do país e que terão colocado nas ruas mais de meio milhão de pessoas, embora convocada pelo Facebook, a indicação que veio da rede social não dava a entender que o protesto assumisse tão grande dimensão, só se assemelhando ao primeiro Dia do Trabalhador comemorado em liberdade, em 1974, após a revolução de 25 de Abril.
Dados disponíveis na página daquela rede, intitulada ‘Que se lixe a troika! Queremos as nossas vidas’ e onde foi publicado o manifesto que sustentou o protesto, foram convidadas 676.499 utilizadores para o desfile em Lisboa, mas só 58.931 confirmaram a presença. Apareceram várias centenas de milhares, segundo as autoridades.
Situação oposta ocorreu a 7 de Junho de 2010, quando uma concentração contra o Acordo Ortográfico convocada através do Facebook para junto do Palácio da Ajuda, onde funcionava o então Ministério da Cultura, teve a adesão de 18.000 pessoas na rede social, mas apenas três compareceram no local.
«Entre o ‘like’(gosto) e o ir lá, há uma grande diferença», considera Soromenho Marques, catedrático na Universidade de Lisboa.
Pereira Lopes, que lecciona no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) recorda que «já havia revoluções antes das redes sociais» e considera mesmo que atribuir-se ao Facebook a mudança de regimes que ficou conhecida por «Primavera Árabe» é um «exagero».
Na sua opinião, a rapidez, a par do baixo custo, são factores determinantes no sucesso destas novas formas de comunicação, cujo impacto considera semelhante ao que causou o aparecimento do telefone e que suscitava o mesmo tipo de receios – que os «vizinhos soubessem o que se dizia lá em casa».
Já Amaral Dias, catedrático na Universidade de Coimbra, realça que a «igualdade entre as pessoas é muito maior» nas redes sociais virtuais, que têm ainda associadas a «fraternidade» que proporciona, ao «unir mais facilmente as pessoas».
Soromenho Marques considera redes como o Facebook – que em Portugal tem 4,2 milhões de inscritos, 2,4 milhões dos quais utilizadores activos – «espaços de intimidade pública» onde convocatórias como as das manifestações surgem como um «desafio» em que «toda a gente vai qual é a decisão» tomada pelo receptor.
A experiência repete-se no sábado, mas desta vez a manifestação anti-governamental, no Terreiro do Paço, em Lisboa, é organizada pela central sindical CGTP e convocada pelos métodos tradicionais e também através do Facebook.
Na quinta-feira à noite tinham sido convidados para a concentração cerca de 15.500 membros daquela rede social, mas apenas 1.530 dos quais diziam ir participar.
Lusa/SOL